sábado, 26 de março de 2011

entre memórias e sensações

Tempo é algo escasso hoje em dia. Não há tempo para diversos setores que necessitam de manutenção nessa desorganização chamada "eu".


Neste meio tempo, entre um frenesi de muitas coisas que preciso e quero fazer, meu professor de Estudos da Semiótica pediu à sala para redigir uma espécie de crônica sobre nossa infância.
Eu não fiz dando desculpas de que simplesmente não queria encarar meu passado. O que é parcialmente verdadeiro.
Mas há um momento em que não se pode fugir de uma ideia que cresce em nossa mente e que nos força a... muitas coisas.

A respeito de minha infância, não há nada de extraordinário a respeito dela.
As maiores dores que me lembro são físicas, como cair de cara no chão depois de acelerar exageradamente minha Caloi rosa. E perder um dos dentes da frente por causa da imprudência infantil. Dente que sendo de leite, logo foi substituído por um que felizmente continua em minha boca.
Dor de quase quebrar o braço esquerdo, também apostando corrida, mas dessa vez com meus patins azuis. E a qual eu ganhei.

Marcas de infância são as diversas cicatrizes que tenho espalhadas pelo corpo. Algumas quais nem me lembro como adquiri.
Sei que dou a impressão de ter sido uma criança altamente desastrada...
Não fui uma criança desastrada, mas continuo sendo.

Nunca fui uma das mais sociáveis garotas do prédio. Nem uma das mais bonitas.
A infância e pré-adolescência não foram as mais gentis comigo, mas não foram megeras.
A pouca vida adulta que tive até agora também não foi das mais gentis e ainda há muito a descobrir e mudar.

A "Average Girl", garota comum e até um pouco desajustada, é de quem me lembro quando penso nesta parte da minha vida. E algumas coisas não mudam muito.
A sensação de não pertencer verdadeiramente a um grupo é a primeira que me lembro de sentir. E uma das mais significativas e presentes até hoje.


Memórias que ainda me fazem rir e que são umas das primeiras quando penso em infância são, por exemplo, da sensação de correr pela lona, já um pouco remendada, que cobria a piscina do prédio com algumas crianças mais velhas que lá moravam.
Meu pai, o zelador do prédio, ficava louco de raiva. Não só de mim, mas das outras crianças.

A sensação era de perigo, de liberdade. Era extasiante.

As músicas da época, são algumas que gosto e me divirto até hoje. Não havia um fim de semana que não pedisse para minha mãe colocar o LP do Abba ou a cassete dos Mamonas Assassinas. Há também algumas outras músicas que sei até hoje e que não me lembro como conheci, sendo que meus pais não se lembram delas...

A casa, no quase-interior de São Paulo ainda é a mesma. Ou quase.
A casa que era média, agora é mais espaçosa e tem piso no chão, que era de cimento batido. Já não consigo lembrar quando as paredes ganharam azulejos.
Acredito que na mesma época que comecei a entender um pouco quem eu era.

Talvez ela seja uma espécie de metáfora não só sobre mim, mas sobre toda minha família, como nós três mudamos ao longo desses catorze anos.
As paredes ficaram mais fortes e bonitas, dois quartos foram feitos para comportar mais gente e uma nova escada foi construída para dar acesso à cobertura.
Mas a escada é a mesma. A longa escada que subimos todos os finais de semana, que nos cansa e tira o fôlego. Que subimos carregados de malas e sacolas e que nos faz chegar ainda mais cansados.

O que consigo concluir, dentre tantas outra lembranças antigas e algumas relativamente recentes é que eu sei algumas boas coisas sobre alguns assuntos e sobre pessoas em geral.
Mas poucas coisas sobre mim e que apenas comecei a decifrar esse ser denominado
"eu".